As suas principais características

O Ciberespaço é um ambiente construído por valorosa infraestrutura de hardware e software, cabos de fibra ótica, comunicações baseadas no espaço e recursos humanos especializados.

Conforme a Comissão Presidencial de Proteção de Infraestruturas Críticas do governo norte-americano, em 13 de outubro de 1997:

Devemos aprender a lidar com uma nova geografia, em que fronteiras são irrelevantes e distâncias perderam o sentido, em que o inimigo pode ser capaz de danificar os sistemas vitais dos quais dependemos sem confrontar nosso poder militar.

Segundo Nye, 2011:

O espaço cibernético se difere dos outros, pois é o único que apresenta uma mistura de propriedades virtuais e físicas. A camada física se refere a infraestruturas que seguem leis econômicas, custos tradicionais e está sob controle e jurisdição de Estados soberanos; já a camada virtual apresenta características que fogem do controle jurisdicional tradicional. Há a possibilidade de ataques que saem da camada virtual, onde os custos são baixos, prejudicarem a camada física, que tem recursos escassos e custos altos. Outra característica é que o controle da camada física gera efeitos territoriais e extraterritoriais na camada virtual.

A construção desta visão é essencial para o entendimento, em plenitude, do Espaço Cibernético, que possui as seguintes características:

⁕ A falta de fronteiras: esse aspecto potencializa atritos entre os múltiplos atores que buscam definir o seu controle por meio da projeção de poder, dificultando o estabelecimento de uma governança global. A composição difusa e virtualizada do ciberespaço impõe a ausência de limites reais para o Estado, que, tradicionalmente, fundamenta-se no controle sobre certa dimensão territorial. Neste aspecto, o conceito de soberania é relativizado para o de autonomia, materializada pela capacidade de atuação com liberdade de ação;

⁕ A constante conectividade: a essência deste ambiente é a intensa conectividade fomentada por sua arquitetura. As inúmeras redes estabelecidas possibilitam o controle global de todas as atividades desenvolvidas nos demais espaços. Esse aspecto(,) relaciona-se diretamente com a sua maior vulnerabilidade, na medida em que a relação de conectividade com superfície de ataques cibernéticos é diretamente proporcional, ou seja, quanto mais conectado for um ator, maior será a possibilidade de sofrer ações maliciosas que busquem explorar vulnerabilidades;

⁕ A interdependência econômica e de infraestruturas: a possibilidade de promover transações com oportunidade e relativa segurança direcionou os fluxos econômicos para o ambiente cibernético. Desta forma, a inserção do fluxo financeiro no Espaço Cibernético tornou-se fator crítico de sucesso para o desenvolvimento da economia global. Cada vez mais, a economia fica dependente das transações realizadas nesse ambiente, sendo estimado um valor de US$ 10 trilhões por ano em vendas;

⁕ O elevado grau de dependência de insumos complexos: a primeira imagem referente ao ciberespaço formada na mente de qualquer pessoa é vinculada aos fluxos informacionais promovidos pela capacidade dos computadores em transmitir e processar dados. Contudo, não se pode relevar o fato que o Espaço Cibernético, como criação do homem, depende da combinação de insumos complexos;

⁕ A capacidade de mitigação das assimetrias de poder: o Espaço Cibernético permite que atores estatais e não estatais desenvolvam capacidades equivalentes, gerando um relativo equilíbrio de poder diferente do existente nos demais ambientes;

⁕ A elevada dependência da capacidade de inovação: o desenvolvimento de formas mais fáceis de fazer, gerando menor consumo de energia, com maior capacidade de processamento e transmissão, é fundamental para a manutenção do ciberespaço;

⁕ O elevado grau de controle privado: o ciberespaço é um ambiente com predomínio da propriedade privada, sobretudo no setor financeiro. As empresas de tecnologia e telecomunicações cresceram no início dos anos 2000, um movimento visto como beneficiando o boom da Internet. Essa realidade impõe a integração entre o setor privado e público para o desenvolvimento de estratégias voltadas ao controle do ecossistema cibernético;

⁕ A assimilação genética da Internet: a principal semente de futuro do ciberespaço foi a consolidação da Internet. Desta forma, como uma transferência genética, o Espaço Cibernético assimilou “os genomas” da rede mundial de computadores, principalmente no tocante à sua arquitetura. Neste contexto, as lacunas presentes no design da rede são exploradas diariamente;

⁕ O pouco conhecimento público: as características, limitações e vulnerabilidades do ciberespaço são pouco debatidas no seio da sociedade. Existem poucas publicações direcionadas ao público não especializado na área de Tecnologia da Informação;

⁕ A falta de governança: no Espaço Cibernético, encontram-se múltiplos atores desenvolvendo atividades que, normalmente, fogem aos pilares fundamentais que integram a governança, como: transparência, publicidade, controles rígidos, segurança, etc;

⁕ O elevado consumo energético: a Internet, motor propulsor do Espaço Cibernético, funciona 24 horas por dia e todos os dias da semana, ou seja, tudo que esteja relacionado à manutenção de sua funcionalidade apresenta considerável carga horária de trabalho, consumindo elevadas taxas de energia;

⁕ A transversalidade: a condição de virtualidade do ciberespaço permite que ele possua a capacidade de ser transversal ao espaço terrestre, aquático/marítimo, aéreo e espacial. Essa condição potencializa a sua aplicação efetiva no contexto da projeção de poder entre os atores que compõem esse ecossistema;

⁕ A convergência em nós: ao se observar o fluxo informacional presente no ciberespaço, conclui-se que parcela significativa dele flui por cabos submarinos.Essa realidade gera nós estratégicos, materializados pelos pontos geográficos de convergência da infraestrutura de conexão (hot points) que viabilizam a entrada e saída dos cabos e sua integração à arquitetura do Espaço Cibernético; e

⁕ A facilidade de anonimização: os integrantes do ecossistema cibernético possuem elevada capacidade de realizarem ações e não serem efetivamente identificados por seus alvos. Essa questão é denominada de anonimização, que poderá ser facilmente comparada à habilidade de camuflagem existente nos demais espaços.

Fonte: Livro "O jogo do Poder no Espaço Cibernético".