O Poder Cibernético
A busca pelo entendimento deste conceito nas Relações Internacionais e na Geopolítica


Não existe unanimidade na conceituação do Poder Cibernético entre os principais autores envolvidos com a temática, sendo essa realidade similar ao conceito de Espaço Cibernético. Tal constatação deve-se, possivelmente, a pouca maturidade de estudos desenvolvidos no âmbito das teorias das Relações Internacionais e Geopolítica sobre o tema.
A busca por seu entendimento impõe, inicialmente, um levantamento bibliográfico das principais teorias e autores, clássicos e contemporâneos, que produziram conhecimentos voltados à definição de Poder. Contudo, deve-se entender que o Poder Cibernético possui intrínseca relação com a Era da Informação, onde os dados e metadados superam, em grau de importância, o conceito de territorialidade na constituição das relações entre os múltiplos atores.
O poder e o espaço sempre foram aspectos relevantes no contexto dos estudos desenvolvidos na Ciência Política. Porém, reforça-se que a configuração do primeiro sofreu transformações ao longo da História, passando predominantemente da dimensão física para a informacional.
Na atualidade, os dados, as informações e a capacidade de transformá-los em conhecimento útil integram efetivamente a construção do Poder, particularmente no contexto cibernético.
Afaste-se do Realismo no sentido de entender que o Estado não é o ator central do jogo de poder. Contudo, devido ao entendimento da existência de uma anarquia no Sistema Internacional, o Poder Cibernético é aplicado com maior ênfase para a manutenção da sobrevivência estatal e a conquista de seus objetivos.
Em relação à Geopolítica, os conceitos basilares clássicos de Mahan (1890) a Spykman (1942) podem ser apropriados, tendo o fluxo informacional a capacidade de ser território e espaço.
Pode-se extrapolar o conceito de o “poder terrestre” de Mackinder ao Espaço Cibernético por meio da busca do controle do Heartland informacional:
“Quem governar os fluxos de comunicação governará o coração cibernético, e quem governar o coração cibernético controlará o mundo”.
O mesmo acontece ao poder marítimo de Mahan pela capacidade de navegar pelo ciberespaço e controlar os pontos de convergência e estrangulamento do fluxo informacional, tendo a mesma intenção estratégica que se aplicava aos portos marítimos e estreitos geográficos.
Essa questão é materializada, na dimensão geográfica, pela importância geopolítica direcionada a Turquia devido ao controle da entrada e saída do mar Negro através da reduzida passagem do estreito de Bósforo. Ao irã pela capacidade de fechar o estreito de Ormuz no Golfo, pelo qual passam a cada dia, aproximadamente, 20% das necessidades de petróleo do mundo. A indonésia, Malásia e Cingapura devido ao estreito de Malaca por onde passam 12 milhões de barris de petróleo em direção a China.
No Espaço Cibernético essa teoria aplica-se aos pontos de convergência do fluxo informacional, particularmente por meio dos cabos submarinos. Neste ponto destaca-se no Chifre da África, o pequeno Djibouti. Com uma localização estratégica no cruzamento de importantes rotas de navegação internacionais, o país tem utilizado essa posição para se tornar um ponto vital para os cabos submarinos de fibra ótica, que são essenciais para a conectividade de internet em alta velocidade, servindo como uma junção crítica para o tráfego de internet entre a Europa, o Oriente Médio e a Ásia.
Na geopolítica contemporânea, o Hard, Soft e Smart Power navegam efetivamente no Espaço Cibernético. O Poder Cibernético ultrapassa a sua dimensão, promovendo um efeito híbrido que flui pelas infraestruturas que o compõe, gerando transformações comportamentais por meio coercitivos e cooperativos. Torna-se perceptível que estabelecer esse conceito é uma tarefa complexa, e quantificá-lo é um desafio ainda maior.
Nesta conjuntura, cabe o pensamento: “se o poder cibernético representa o potencial de usar o ciberespaço para obter os resultados desejados, então o contexto estratégico é chave para entender sua utilidade”.
Fonte: Livro "O jogo do Poder no Espaço Cibernético".