Os elementos integradores do Espaço Cibernético

A sinergia cibernética

Para facilitar o entendimento sobre os aspectos necessários à existência do ciberespaço, adota-se a expressão “fatores condicionantes” para indicar os elementos essenciais a sua construção. Cabe destacar que não existe unanimidade sobre esse ponto, sendo aqui exposta a visão do autor.

Os fatores condicionantes buscam sintetizar todos os elementos necessários à construção das infraestruturas de suporte que permitem a fluidez das informações no Espaço Cibernético.

Um ator que almeje ocupar posição de vantagem neste ambiente deverá direcionar seus esforços aos seguintes fatores:

O controle de insumos tecnológicos: os elementos básicos para a existência de interações que justifiquem a importância atual do ciberespaço são os vinculados a viabilizar as comunicações e processos realizados na Internet;

⁕ O controle de fontes energéticas: as tecnologias digitais formam um sistema global integrado por terminais que são conectados entre si por meio de infraestruturas de rede (cabos terrestres e submarinos, antenas de redes móveis, fibra ótica, etc.) que permitem a troca das informações armazenadas e processadas nos Data Centers que representam o coração deste sistema. Contudo, cada elemento integrante requer energia não só para funcionar, mas para ser produzido. A extração de matérias-primas, os processos industriais e a posterior entrega aos consumidores exigem recursos energéticos substanciais, longe de serem insignificantes;

A capacidade de inovação: pensar no ciberespaço é, inevitavelmente, imaginar tecnologias disruptivas capazes de otimizar o fluxo informacional. Na maior parte dos livros de visão prospectiva, o futuro é caracterizado pelo emprego de meios tecnológicos otimizando as relações humanas, potencializando a capacidade de armazenamento e processamento de dados e produzindo automação;

A capacidade de promover uma relação público-privada: a relação público-privada pode ser analisada em três grandes tendências:

a) as voltadas à Segurança Cibernética: a maioria das infraestruturas críticas inseridas no Espaço Cibernético é controlada pelo setor privado. Essa relação é fundamentada na definição do limite entre a responsabilidade em prover a Segurança e a Defesa neste ambiente.

b) as direcionadas à pesquisa e ao desenvolvimento: o fomento às pesquisas duais é forte elo entre o setor público e privado, sendo normalmente viabilizado pela tríplice hélice.

c) aos mecanismos normativos: a elaboração de normas e leis que regulem a relação pública-privada é essencial para o direcionamento dos esforços que fluem entre as partes integrantes do Espaço Cibernético.

O controle de tecnologias disruptivas emergentes: a capacidade de monitorar ou gerar essas tecnologias é um fator preponderante no jogo de poder desenhado no ciberespaço.

Entende-se como tecnologias disruptivas: “termo que descreve a inovação tecnológica, produto ou serviço que provocam uma ruptura com os padrões, modelos ou tecnologias já estabelecidos no mercado”;

O estabelecimento de parcerias estratégicas: no ciberespaço marcado pela volatilidade, ambiguidade e incerteza, a construção de parcerias estratégicas aumenta a capacidade de atuação dos mesmos e a promoção da liberdade de ação;

A capacidade satelital: essa capacidade é realidade para poucas nações no globo. Tal situação gera uma concentração de poder, na proporção em que os satélites de comunicações voltados à Internet permitem o aumento da cobertura global, maior capacidade de transmissão de dados em maior velocidade, simplicidade e alta disponibilidade;

O controle dos pontos de convergências estruturais: a infraestrutura física do ciberespaço é convergente em pontos denominados de nodos ou hot points.

Esses pontos são estratégicos no jogo de poder no Espaço Cibernético por concentrarem elevado número de infraestruturas necessárias ao fluxo informacional, representando vulnerabilidade na arquitetura de distribuição dos dados que navegam no ecossistema cibernético; e

O grau de inserção da população no Espaço Cibernético: O ciberespaço é uma criação do Homem, tendo uma camada constituída por usuários ou indivíduos e pelas suas identificações na camada virtual.

Neste sentido, o grau de inserção da população de um Estado pode ser entendida como vulnerabilidade na medida em que o seu crescimento aumenta a superfície de ataque estatal. Cabe ressaltar o contraponto que o aumento do grau de inserção representa uma elevação do potencial do mercado consumidor de produtos tecnológicos, sendo refletido diretamente no número de usuários inseridos no ecossistema cibernético.

Fonte: Livro "O jogo do Poder no Espaço Cibernético".