Territorialização do Espaço Cibernético
A busca pela soberania plena


Os Estados sempre buscaram consolidar a sua soberania por meio da definição do território e a aplicação de seu poder, particularmente após o processos de construção destes atores no Sistema Internacional por meio dos chamados Tratados de Vestfália, em 1648, que foram importantes não só porque colocaram um ponto final na Guerra dos Trinta Anos, mas a partir deles também se forjou um novo sistema para a Europa. Contudo, a busca por territórios sempre motivou a expansão das posses pelos grupos sociais organizados.
Destaca-se o movimento da expansão marítima desenvolvida no século XV que permitiu que as evoluções disruptivas fomentadas na Escola de Sagres fossem associadas às visões econômicas na busca do fortalecimento de empreendimentos estatais.
Nesta direção, Portugal e Espanha lideraram esse processo, sendo vetores da ocupação de significativa parcela territorial de partes do globo, particularmente do "Novo Mundo", materializado pelas Américas.
Conforme Haesbaert: " o território é o produto de uma relação de forças, envolvendo o domínio ou o controle político-econômico do espaço e sua apropriação simbólica, ora conjugados e mutuamente reforçados, ora desconectados e contraditoriamente articulados". Essa visão teórica é reforçada pelo pensamento defendido por Claude Raffestin "o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzidas por um ator sintagmático em qualquer nível".
Fundamentado nestes pensamentos, pode-se inferir que o espaço descoberto e ocupado pela expansão marítima, viabilizada pela construção disruptiva das caravelas, permitiu a construção dos territórios explorados pelas potencias europeias além mar, espaço considerado ocupado por criaturas mitológicas, que na verdade foram transformados em fontes de riquezas que viabilizaram a consolidação dos Estados Europeus e o controle do poder mundial durante um longo período da história da humanidade.
Realizando uma análise comparativa, verifica-se que o Espaço Cibernético é o espaço a ser ocupado pela nova expansão marítima que navega pelas ondas dos fluxos informacionais por meio da construção de tecnologias disruptivas que, guardada as devidas proporções, realizam o papel tecnológico das caravelas da expansão marítima.
As iniciativas exploratórias que delimitaram os territórios no século XV, particularmente entre Portugal e Espanha, são replicadas no ciberespaço, com a finalidade de implantar um novo conceito de territorialização por meio do estabelecimento dos "domínios" que serão os vetores da construção dos novos modelos de fronteiras que permitirão a construção do conceito de soberania estatal na camada virtual do Espaço Cibernético.
Cabe esclarecer que um domínio na internet é o endereço digital que identifica e localiza um site na rede mundial de computadores. Nesta direção, a sua venda, como por exemplos: .br- Brasil, .uk- Reino Unido, .ae - Emirados Árabes Unidos, .lt - Lituânia,.es - Espanha, etc., fomenta a construção da visão territorial da camada virtual do ciberespaço.
Por meio do exercício mental, acredita-se que a história da expansão marítima será replicada no Espaço Cibernético, por meio da fundamentação teórica de Raffestin, o espaço antecede ao território, tendo os Estados Unidos e China as posições e funções desempenhadas por Portugal e Espanha no século XV. Esse entendimento permitirá a expansão plena do conceito de soberania ao novo Domínio, particularmente em sua camada virtual ou lógica que até o presente momento assume o papel de ambiente cinza que materializa a névoa da guerra descrita por Clausewitz.
Estamos vivenciando apenas o início deste novo modelo de colonização?
As bandeiras estatais são fincadas, diariamente, neste novo território selvagem, indicando que o Espaço Cibernético seguirá a mesma lógica desenvolvida aos espaços terrestre, marítimo e aéreo.